Mensagem conjunta de Audrey Azoulay, Diretora-Geral da UNESCO, e Phumzile Mlambo-Ngcuka, Diretora Executiva da ONU-Mulheres, por ocasião do Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência -11 de fevereiro de 2021

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A crise de COVID-19 demonstrou, uma vez mais, o papel essencial das mulheres e raparigas na ciência. As mulheres investigadoras têm liderado muitos avanços decisivos na luta contra a pandemia – desde a compreensão do vírus e o controlo da sua propagação, até ao desenvolvimento de testes de diagnóstico e de vacinas.

Ao mesmo tempo, há provas crescentes de que a pandemia tem atingido mais duramente as mulheres – especialmente as mulheres cientistas – do que os homens, por exemplo, devido à distribuição desequilibrada dos cuidados não remunerados e das tarefas domésticas. Com demasiada frequência, as mulheres encarregam-se da escolaridade em casa, dos cuidados a idosos e de outras tarefas relacionadas com a obrigação de permanência em casa, em detrimento do seu próprio emprego.

Os estereótipos e as desigualdades de género continuam a impedir muitas raparigas e mulheres de enveredarem e permanecerem em carreiras científicas em todo o mundo. A próxima edição do Relatório da UNESCO sobre a Ciência mostra que apenas 33% dos investigadores são mulheres, apesar de representarem 45 e 55% dos estudantes de licenciatura e mestrado, respetivamente, e 44% dos estudantes de doutoramento.

Precisamos de intensificar os nossos esforços para colmatar estas lacunas de género na ciência, e combater as normas e estereótipos que criam e mantêm a ideia de que os percursos profissionais são limitados para as raparigas na ciência. Isto é tanto mais urgente tendo em conta a sub-representação das mulheres em áreas cruciais para o futuro do trabalho, como as energias renováveis e as tecnologias digitais, uma vez que apenas 3% das estudantes do ensino superior escolhe tecnologias da informação e comunicação.

Precisamos da ciência e a ciência precisa das mulheres. Não se trata apenas de assumir um compromisso com a igualdade de direitos; trata-se também de tornar a ciência mais aberta, diversificada e eficiente.

Para serem verdadeiramente transformadoras, os programas e políticas de igualdade de género devem eliminar os estereótipos de género através da educação, mudar as normas sociais, promover modelos positivos de mulheres cientistas e sensibilizar ao mais alto nível da tomada de decisão. Temos de assegurar que as mulheres e raparigas não só participam nas áreas STEM, como também têm poder para liderar e inovar, e que são apoiadas pelas políticas do local de trabalho e culturas organizacionais, para que garantam a sua segurança e tenham em conta as suas necessidades como pais, e as incentivem a progredir e prosperar nestas carreiras. Um inquérito recente em 17 países sublinha que as jovens querem urgentemente mais ação governamental, com 75% das mulheres inquiridas com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, com expectativa de que os seus governos aumentem o financiamento para a igualdade de género.

A UNESCO e a ONU Mulheres, juntamente com todos os seus parceiros, estão empenhadas em dar prioridade à igualdade de género em todos os aspetos do seu trabalho: desde a promoção da educação básica em STEM até ao reconhecimento e apoio ao trabalho das mulheres cientistas em todo o mundo através de iniciativas como o Programa L’Oréal-UNESCO “Para as Mulheres na Ciência” e a Organização para as Mulheres na Ciência no Mundo em Desenvolvimento, e incentivando empresas da área STEM a assumirem compromissos ousados em matéria de igualdade de género através dos Princípios de Capacitação das Mulheres. De acordo com as suas duas prioridades globais, África e Igualdade de Género, a UNESCO está particularmente ativa no continente africano, acompanhando raparigas por meio de programas de tutoria online no Quénia, por exemplo, e fornecendo aos laboratórios escolares kits de microciência na República Democrática do Congo. Este ano, estamos também a aproveitar a oportunidade única proporcionada pelo Fórum para a Igualdade entre Gerações, organizado pela ONU Mulheres e copresidido pela França e pelo México, em parceria com a sociedade civil e os jovens, e a sua Coligação para a Ação sobre Tecnologia e Inovação para a Igualdade de Género, para impulsionar ações transformadoras para uma evolução digital que tenha em conta a diversidade de género.

As mulheres cientistas são uma fonte de inspiração para as jovens de todo o mundo desejosas de estudar disciplinas científicas. Hoje, ao celebrarmos o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, é nosso dever preparar o caminho para a construção de um futuro mais justo e equitativo. Jennifer Doudna, laureada com o Prémio Nobel da Química 2020, declarou “Adoro o processo de descoberta”. Para todas as raparigas que consideram uma carreira na ciência, deveria ser tão simples quanto isso.